– Quando começaste a cantar, em 1963, estavas numa área artística e movias-te num meio social que não era propriamente o mesmo do Zeca. Que influência é que ele acabou por ter em ti?
– Foi muito grande. Muito maior do que aquilo que eu na altura teria entendido, hoje tenho essa dimensão. Repara que eu venho de um meio muito específico, que é o meio do fado. Na altura não se sabia, mas hoje está provado que, durante o período de gestação, o bebé recebe todas as influências da mãe. Todas. E a minha mãe, por razões conjunturais da vida dos meus pais, teve de cantar até ao oitavo mês de gravidez. Cantava de xaile para disfarçar a barriguinha, mas foi um período muito difícil na vida deles. Isto são histórias que me foram contadas por ela e pelo meu pai. Eu nasci em 1939, estava a começar a guerra na Europa, havia muito desemprego, e o meu pai, que era um brilhante livreiro, esteve um período sem trabalho, sem qualquer trabalho. E portanto era necessário alguém sustentar a família, e foi a minha mãe que o fez. E lá estava eu, dentro daquela barriguinha, a ouvir fado, até ao oitavo mês. Eu sou oriundo disto.
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