Para começo de ano mau, isto está bom. Em poucas semanas, o desgoverno dos comissários da troica conseguiu provar aos mais descrentes que não há mesmo limites para a criatividade. Se lhes desse para o bem, Portugal seria fantástico.
Começou por dar um precioso e inovador contributo para o novo aborto ortográfico*: a passagem de parte substancial da EDP das mãos do estado português para as do estado chinês concede uma nova abrangência ao conceito de privatização. E explica, finalmente, o que vai nos bolbos raquidianos do senhor que manda no dos passos, do propriamente dito e do secretário de estado anónimo que nos querem ver daqui para fora: a ideia deve ser fazermos como os chineses, mas ao contrário, isto é, vamos nós para a terra deles abrir lojas.
Mas que poderemos nós vender aos chineses que eles não tenham já inventado? A resposta deu-a ontem, com a sagacidade que o caracteriza, o álvaro ministro: pastéis de nata. Pastéis de nata, nem mais, que poderão, nestes tempos conturbados, desempenhar o papel que noutras eras coube aos gamas e aos cabrais. (NR: juro que é verdade: onde atrás escrevi eras, uma perturbadora gralha fez aparecer a palavra elas; será contágio chino por antecipação?)
A álvara ideia agrada-me tanto que me atrevo a sugerir também a internacionalização urgente do galo de Barcelos, da água de Fátima e dos bustos do dr. Sousa Martins. E, se houver por aí um potencial sócio disposto a arriscar, sou homem para me meter num franshising de caralhos das Caldas. A estratégia de marketing fica por minha conta, e dormirei com a certeza de estar a contribuir aceleradamente para eliminar a crise.
*Novo aborto ortográfico é uma expressão usada por empréstimo do José Xaviel Ezequiel.
Para Consumo da Causa - 13.1.2012