O retrato já tem aí uns 5 anos. Andávamos então às voltas com a Estranha Forma de Vida que imaginaste e a que demos forma (com o [António] Macedo, o [João Carlos] Callixto, o Henrique [Amaro], a Eva [Verdú], a Paula [Paiva] e mais uma porção de gente) para a RTP e a Antena1.
Já não sei se o [Carlos] Mendes está connosco por causa disso ou se foi ao rádio por outras razões. Mas lembro-me de, nesse dia, pelo menos tu e eu e o Macedo termos atacado um "empadão de cozido" que a mulher do sr. Zé Freitas do Amaral prepara como ninguém, e que foi pretexto para umas belas e frequentemente acertadas conversetas de pós-prandial. Faço, pelo menos, essa associação gastronómica a esta foto, mas claro que pode ser a memória a pregar-me partidas. Não importa: aqui, como lá, o empadão é apenas um pretexto para o convívio - e isso é do que a gente realmente gosta.
Sei também que, no que a ti e a mim diz respeito, este será, porventura, o último (e talvez o único, pois não sei se sei onde estarão os outros) registo fotográfico dos nossos mais de 30 anos de conhecimento mútuo, respeito profissional e amizade, também e principalmente.
Durante anos, trilhámos caminhos a bem dizer paralelos, tu sempre pela rádio e pela televisão, eu nessa altura sobretudo pelos jornais. Foi por esse tempo que nos conhecemos, que conquistámos o respeito um do outro e um pelo outro. E nunca mais deixámos de nos ver, mais ou menos espaçadamente, a propósito ou a despropósito.
Já neste século, fomos finalmente colegas. Mesmo. De escola, a primeira vez, nas aulas de mestrado do ISCTE que ambos frequentámos. Nessa altura, eu já tinha desaguado na Rádio e Televisão de Portugal e tu andavas "de licença" pela administração do Pavilhão Atlântico (a que voltarias, nos últimos anos, já na modalidade de Meo Arena), mas o teu regresso à RTP foi apenas uma questão de (pouco) tempo.
Foi aí, na RTP, que, finalmente, trabalhámos juntos. Primeiro na idealização do Canal de Música que não chegou a haver, depois na concretização da Estranha Forma de Vida (vê bem a ironia do título que acabou por ser o da tua última grande obra para a Rádio e a Televisão), e finalmente no gabinete dos Provedores da RTP, onde foste, nos últimos três anos e meio, o representante e a voz dos telespectadores.
Autor, apresentador, director, administrador, provedor. Bem pode dizer-se que não houve praticamente nada que não fosses no serviço público (e até no privado) de rádio e televisão. Mas para nós, os teus amigos, eras o que sempre foste: o Jaimex, o nosso Jaimex. E chegava, porque isso era tudo.
Agora, deveria dizer-te aquelas coisas que se dizem nestas alturas, e que neste caso até são verdadeiras: que contigo se trabalhava tranquila, mas eficazmente, que eras um tipo de ideias e um gestor de equipas que nunca levantava a voz, por aí. Mas estou um bocado como o José Cardoso Pires depois de o Fernando Assis Pacheco nos ter pregado uma partida semelhante: com muito mau perder.
Porra, Jaimex, isto não se faz à gente!
Facebook, 30.Out.2016