Chateiam-me os ricos que não se cansam de roubar e os pobres que já desistiram de lutar.
Chateiam-me os jornalistas-pé-de-microfone e os assessores-pó-de-microfilme.
Chateia-me a merda dos cães-de-caca que invadiu as ruas de Lisboa.
Chateia-me a videovigilância, a audiovigilância e a vigilância em geral, mesmo à vista desarmada.
Chateia-me ter nascido no país que tem a mais antiga identidade cultural da Europa, para nada.
Chateiam-me os toscos do pensamento, mas ainda me chateiam mais os que produzem os pensamentos toscos que nos tosquiam.
Chateiam-me os desgovernantes que acham que a melhor solução para tapar um buraco é continuar a cavar.
Chateia-me viver entre gente que opta por substituir uma merda por outra de pior calibre só para poder dizer que isto é tudo a mesma merda.
Chateia-me a azia das noites eleitorais.
Chateiam-me as artimanhas dos fângios-de-aviário ao volante pelos caminhos de Portugal e dos algarves.
Chateia-me o buraco das Estradas de Portugal, mas muito mais me chateiam as estradas de Portugal com buracos.
Chateiam-me as noites vazias dos portugueses vazios.
Chateia-me que os bancos paguem menos impostos do que eu.
Chateiam-me as mulheres lindas com cabeça-de-periquito.
Chateiam-me os discursos do presidente-da-travessa-do-possolo. E dão-me sono.
Chateia-me o regresso da lei-barreto.
Chateiam-me as merdalhas do 10 de Junho.
Chateia-me que já tão pouca gente se chateie com estas coisas.
Há mais, mas para hoje já me chateei o suficiente.
Para Consumo da Causa, 17.Junho.2011